Homem
Macaco e Porco
Leio na revista Visão, nº 653, desta semana, in Útero com paredes de vidro (pag. 25): com seis semanas […] não se distingue se o embrião é de homem, macaco ou de porco […]. Quando o embrião no útero da mulher se torna feto parece que vira homem. Mas a notícia não diz se, em vez de homem, poderia virar macaco ou porco.
Sabe-se porém (e não faltam notícias e comentários nas muitas páginas da revista para apoiar a evidência) que a mulher despeja com as águas uterinas uma esperança de humanidade que a realidade adulta acaba quase sempre por trair: o homem afinal também é macaco e porco.
Não fora a criança, nunca se saberia o que de homem habitava o embrião humano. Não fora o adulto, nunca se saberia quanto de macaco e porco se esconde, afinal, no dito embrião.
O que vale é que a Revista associa a eterna criança à estética: na sua crónica (pág. 13) António Lobo Antunes evoca o fascínio diante do seu (também meu) anel [de lata] com o emblema do Benfica e os novos designers [pág. 107] recorrem, como as crianças, à potencialidade lúdica para aproveitarem os materiais aparentemente sem valor.
As crianças conseguem brincar aos imperadores com ceptros de cana rachada. Depois de adultos, são poucos os que guardam a alma de criança.
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