quarta-feira, abril 24, 2002

Com os pés no chão


Há quem se gabe de ter os pés bem assentes na terra. Porem, o homem inventou as meias e os sapatos bem cedo precisamente para não sentir a terra e andar com a cabeça no ar à vontade. Se há característica que melhor identifique o bicho homem é essa de uma cabeça no ar, tão no ar, que a mente se desprende do corpo para justificar o injustificável, aquilo que nem sequer o cérebro justifica. Hoje a cultura é paradoxalmente esquizofrénica: venha de onde venha, todo o discurso avança com as condições mentais prévias justificativas do saber e do poder de quem discursa sem o incómodo de assentar os pés no chão. É urgente que o homem mude a sua relação com o saber e o poder. O homem? Sim: eu, tu e o outro.

segunda-feira, abril 01, 2002

Páscoa Feliz


Surpreendi Moisés, Jesus e Maomé a passar a Páscoa juntos. Foi no deserto, a terra deles. Acordaram entre si fazer uma grande fogueira com o Livro: o Velho Testamento, o Novo e o Alcorão. Diziam entre eles que o Livro deveria sair da memória e feito assim em chamas arderia para sempre no coração dos homens. Resolveram mais: não voltar a casa e deixar a sinagoga, a igreja e a mesquita às moscas. Crentes e cheios da fé do início Moisés, Jesus e Maomé não perderam a esperança: quando os templos forem só das moscas, rabi, papa e emir voltarão a procurá-los e encontrarão os três juntos, no deserto da origem, iguais a si próprios, nenhum maior do que outro, falando de uma só voz – amai-vos uns aos outros.