Janeiro, mês de balanço…
Quando percebi a regra prática da contabilidade quem deve, tem; quem tem, deve, descobri na sequência lógica do raciocínio que a riqueza consiste em dever a um credor que não exija o pagamento da dívida.
É por isso que quem não tem credores nem à porta nem ao ferrolho e possui bens próprios, se apressa a justificar o pouco ou muito de seu, dizendo que o que tem, a si o deve.
Sou ainda do tempo em que no Pai-Nosso a actual prédica perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido se dizia perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. A mudança apartou águas profanas de águas sagradas: créditos e débitos equilibram-se no balanço da situação líquida das empresas de César (a César o que é de César) enquanto ofensas e ofendidos se purificam nas águas celestiais do perdão que lava a culpa (a Deus o que é de Deus).
Pelos vistos César e Deus respeitam a separação entre este mundo e o outro. Os “prófes” de economia, mesmo os das universidades pias, lembram-nos cheios de humor de que não há almoços grátis. Isto é, neste mundo ninguém perdoa dívidas a ninguém; ou melhor, só se perdoa o que a si próprio se deve…
Os que a si devem o que a si não cobram, engordam. Mas César obriga a que o balanço seja equilibrado, inscrevendo os lucros no passivo: quem tem não só amealha o que a si próprio deve como engorda também com o que outros têm, mas que, pelos vistos, não a si mas a outros devem…
Dito isto, confessemo-nos pecadores: - perdoai nossas ofensas assim como não cobramos as nossas próprias dívidas. Terra e céu unidos no balanço… Ámen.