quinta-feira, janeiro 08, 2004

O eterno ausente.


Um amigo evocou o meu nome, ao recordar uma memorável noite de Viseu que juntou meia dúzia de carolas que resolveram trocar emoções atrás de emoções e muitas foram as que de uns e de outros arrancámos e a uns e a outros fomos provocando.
Teria então dito, referindo-me a Deus: Senhor, que medo ou que mania da superioridade, Te faz ser tão ausente?
Apetece-me vir a terreiro não para negar ou confirmar a frase, mas para reforçar meu convívio privilegiado com a transcendência.
Convivo tu cá tu lá com Deus e, como lhe retribuo a amizade que Ele tem para comigo, não tendo medo d'Ele, de vez em quando, provoco-O, e... digo coisas semelhantes a essa que o meu amigo agora veio lembrar.
De facto, às vezes apetece-me apresentar Deus aos amigos e a Sua permanente invisibilidade incomoda-me.
Será que nessa noite em Viseu em que eu tanto quis apresentar o meu amigo Deus, me passei da bola e, com mais copo menos copo, O invectivei dessa forma? E aqui para nós já nem sei se Ele lhes apareceu, isto é, se se fez presente, já que eu nunca O deixo de ver na Sua ausência.
É assim, caríssimos amigos, é a ausência de Deus que invade o universo inteiro a mesma que enche toda a minha humanidade. E se sucede meu coração ver-se envolvido pela negrura, esse buraco negro do coração me aponta o grito de Fausto de luz, mais luz.
Meu amigo Deus não me mete medo, liberta-me da lei, da culpa e da morte. Da lei e da culpa já cá tenho a minha conta libertária. Resta-me a saudade da minha própria morte. A morte é para mim o esperado encontro com a ausência. Se o eterno ausente não responder à chamada, é porque não é Amor. E se Deus não for Amor, então, seja o que seja e onde quer que for, não me faz falta.