segunda-feira, fevereiro 18, 2002

Lágrimas de crocodilo


A poluição é um assunto que já polui o espírito mais do que os resíduos poluem os corpos. Trata-se de uma autêntica indústria do medo. Se quem semeia ventos colhe tempestades, quem semeia medos, colhe débeis mentais... Não semeiem tantos medos: há seiscentos mil anos que o homem anda a poluir o ambiente e fá-lo na medida em que avança com a sua inteligência. Aliás, é com a consciência cada vez mais aguçada que o homem se vai afastando do tal paraíso terrestre pelo qual agora tanto chora. São lágrimas de crocodilo, venham elas das associações de defesa do ambiente, da anónima sociedade civil, dos governos, de outros poderes, de mais saberes, de quem os informa e outros patuscos que tais. Quem quiser mudar o ambiente tem que mudar de vida: não jogar no tabuleiro da utilidade, mas no da gratuidade. Deixem de ser tão úteis, meus senhores, porque é a utilidade que polui o mundo. Se querem tocar nas coisas para as transformar em ouro, não se queixem agora de que o ouro não mata a sede.