domingo, julho 13, 2003

Dali houve meu nome



O bom-nome a que temos direito nunca é mau... Sou Lamas. Perguntam-me com frequência se eu pertenço aos Lamas de... gente célebre. Não, meu lamaçal é outro, mas não tenho nada contra. A identificação civil adianta pouco ou nada sobre a pessoa. Quem vê caras, não vê corações. Aqui sou visto por mim e por outros. Mas só eu assumo a representação da minha insubstituível memória emocional.

Funcionário público, sei o que é o tacho: aconchega o estômago e amolece o engenho. Resisti e barafustei e desisti, frustrado, após 36:00:00 (anos:meses:dias). Sou um aposentado por inteiro. Nada mau: sopas, descanso e até, vejam lá, a Internet para levar o desabafo pelo universo fora...

Nunca rejeitei o passado. Não me lembro de ter desejado alguma vez construir deliberadamente o futuro. Quanto ao presente, incomoda-me a prolongada rotina da passagem. Sou um retrógrado vigilante: uma alma deste mundo com saudades do outro. Daí a tendência para nunca esconder por de trás do discurso a suposta neutralidade da razão diante do sentimento. Vão aqui alguns exemplos, já velhos, da razão com que sinto.

Se eu tivesse que repetir o passado, voltaria ao dia em que meu pai e minha mãe me conceberam. Foi o dia em que Deus se fez história em mim. A necessidade do amor, a que eu chamo o usufruto da criação sem lei, se foi inventada pelo homem, parece-me não poder ser senão impulsionada por Deus. Eu sou um crente e tento expressar minha crença, às vezes sem rei nem roque.

E por ali cresci. O ponto terrestre mais significativo do universo é o largo da minha aldeia. Trata-se do centro geográfico de uma vida cujo perímetro nunca foi além de uns quatro quilómetros até à idade de dez anos. Aprendi depois no liceu que o carro de mão era uma alavanca e na universidade que meus cabelos louros eram um gene. Como é que hei-de desagravar estas ofensas aos meus olhos de menino senão devolvendo à aldeia a ficção que a cidade me deu?

N.B. - Convém lembrar, até para a compreensão deste "post", que o projecto deste blog se integra num outro alojado noutro servidor. De lá vêm textos para aqui e daqui textos para lá. Um vai-vem da memória, sem fim nem pensamento.

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