Criação sem lei
Gaivotas desenham na cadência azul um bailado branco. E são brancos os novelos de espuma que cavam a areia branda debaixo dos seus pés.
O mar fustiga as rochas e esculpiu na pedra com o capricho dos anos uns sáurios estranhos que vigiam a variação da cor no horizonte calmo.
O homem, só, calcorreia a corda limite das águas de um ao outro braço da harpa que ponteia a surdina musical da baía solitária.
Quantos anos esperaram as rochas pela memória que hoje as transforma em crocodilos do mar? E como era o silêncio antes de se ordenar o som nos búzios?
O homem que anda por ali à procura da solidão primordial é um crente: imagina o mundo antes de haver homens e não concebe a possibilidade de o universo poder existir para ninguém. Procura o radicalmente outro.
O homem pára de vez em quando, absorto. Como era tudo antes da sensibilidade, da inteligência e da memória? Conclui: Era tudo ao deus-dará. – o fascínio da criação sem lei só atribuível a um deus.
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