quinta-feira, março 18, 2010

A Mulher de César.

Fosse o homem coerente com o que lhe prescreve a razão, ao tentar fazer a história do mundo e da vida ab início, diria que no princípio era tudo menos si mesmo. Mas a coerência com a razão foi ao galheiro e dessa infidelidade hoje bem quista nasceram as razões, filhas ao que parece da mesma mãe - a razão - mas de tantos pais quantos cada cabeça sua sentença. Resultado: uma variedade de "declarações de interesses particulares" a coberto de um discurso pretensamente unívoco, mas semeado de transposições de sentidos que litigantes, causídicos e juízes acordam num acórdão. A mulher de César é e parece sempre séria. Basta que mande para o Senado a seguinte declaração: - "Eu, mulher de César, declaro por minha honra, que durmo com César e só com César; mais declaro que tenho estado na cama com outros homens, mas sempre acordada." E diante de tanta seriedade, rende-se a prudência do juízo fazendo... jurisprudência. E assim sempre anda César tranquilo.

Um comentário:

Anônimo disse...

João

Cada escrito teu, è harmonioso, rico como escrita, de suporte histórico e critico…
Tens um modo simples e próximo, mas também complexo nas tuas metáforas…
Sinto, interpreto neste teu texto, num tocar, com muita subtileza, nas contradições na nossa política actual, imoral...
Declara-se no Senado barbaridades a fim “do poder” ficar tranquilo!

Não sei se te entendo, mas foi assim que li teu belo texto.

Lena Barroso