sábado, janeiro 08, 2005

Parabéns, pai!

- Ó João, por que é compraste um garrafão de aguardente? – dizia a Piedade para o marido, apreensiva e desconfiada daquele inusitado apetite etílico.
- É para a feira, mulher. Um copito dela por cada dois quilos, vais ver que esgotamos num instante a carroça das castanhas...
- E por quanto tens de vender o quilo de castanhas para recuperar o preço da aguardente, homem?
- Ó mulher, o que interessa é a festa! Já temos a ceia na volta, levamos farnel para o almoço, as castanhas já estão pagas, vais ver que depois da festa rija, ainda trazemos dinheiro para casa.

Pai, festejei hoje teu aniversário diante de um prato de bacalhau com couves, com uns copos de vinho de marca do Alentejo e com a emoção nublada de lágrimas, minha homenagem à partilha festiva da gratuidade que me transmitiste com histórias simples de vida como a do diálogo verdadeiro entre ti e a mãe, decorriam os difíceis anos vinte do século passado. Pai, fiz a festa sozinho. Hoje, nas feiras, ninguém entende, nem o meu nem o teu ócio. Hoje, pai, todas as festas são negócio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caramba! Cenourinha...

Como a critica em ti, nasce subtilmente como uma queixa na qual louvas as qualidades de teus pais!

Se tu soubesses, amigo, o bem que tens, talvez, por não sofreres ao seres confrontado como eu, quando o meu papel de avó ou bisavó, mesmo que tente e esteja disponível, embata numa surdez inconsciente, de alguns de meus descendentes...

Penso que esta contraditória sociedade provoca a doença do comportamento, contrastando com a paz das tuas palavras...

Beijo doce

Helena B.