Dia do Pai.
Para ti, Pai, hoje, 19 de Março de 2010, este bilhete. Ando a tentar desenhar no computador, no Excel (não sabes o que é mas eu quando chegar aí explico-te) uma fita do tempo. Na horizontal, coloco os anos e já lá vão setenta e cinco e na vertical de cada ano, semeio uns lembretes, marcos do acontecer de minha vida. No ano de 1935, registei que em Janeiro, 8 fizeste 34 anos; a mãe fez 31, dez dias depois. Haviam casado em 1921. Tens dois filhos vivos: a Lurdes, com nove anos, o Zé com cinco. O primeiro filho, João, certamente gerado após o casamento, faleceu com dois para três anos, ainda vosso filho único. Luto difícil. Contava a Lurdes (olá, Lurdes, é bonito o nosso irmão?) que fora gerada a chorar em mil novecentos e vinte e cinco, o Zé, em mil novecentos e vinte e nove, o consolo descuido para amenizar a depressão de 1929 ou um rebento da esperança do saneamento financeiro do estado novo ainda virgem. Mas agora, em mil novecentos e trinta e cinco, combinaste com a mãe articular as datas dos vossos aniversários próximos e concordaram, na cama, entrelaçar os corpos e sussurrar por entre espasmos de esperança o nome de João, o primeiro filho. E nasci eu em 11 de Outubro de 1935, o primeiro e o último João vosso. Obrigado, Pai. Dá um beijo à Mãe.
sexta-feira, março 19, 2010
quinta-feira, março 18, 2010
A Mulher de César.
Fosse o homem coerente com o que lhe prescreve a razão, ao tentar fazer a história do mundo e da vida ab início, diria que no princípio era tudo menos si mesmo. Mas a coerência com a razão foi ao galheiro e dessa infidelidade hoje bem quista nasceram as razões, filhas ao que parece da mesma mãe - a razão - mas de tantos pais quantos cada cabeça sua sentença. Resultado: uma variedade de "declarações de interesses particulares" a coberto de um discurso pretensamente unívoco, mas semeado de transposições de sentidos que litigantes, causídicos e juízes acordam num acórdão. A mulher de César é e parece sempre séria. Basta que mande para o Senado a seguinte declaração: - "Eu, mulher de César, declaro por minha honra, que durmo com César e só com César; mais declaro que tenho estado na cama com outros homens, mas sempre acordada." E diante de tanta seriedade, rende-se a prudência do juízo fazendo... jurisprudência. E assim sempre anda César tranquilo.
Fosse o homem coerente com o que lhe prescreve a razão, ao tentar fazer a história do mundo e da vida ab início, diria que no princípio era tudo menos si mesmo. Mas a coerência com a razão foi ao galheiro e dessa infidelidade hoje bem quista nasceram as razões, filhas ao que parece da mesma mãe - a razão - mas de tantos pais quantos cada cabeça sua sentença. Resultado: uma variedade de "declarações de interesses particulares" a coberto de um discurso pretensamente unívoco, mas semeado de transposições de sentidos que litigantes, causídicos e juízes acordam num acórdão. A mulher de César é e parece sempre séria. Basta que mande para o Senado a seguinte declaração: - "Eu, mulher de César, declaro por minha honra, que durmo com César e só com César; mais declaro que tenho estado na cama com outros homens, mas sempre acordada." E diante de tanta seriedade, rende-se a prudência do juízo fazendo... jurisprudência. E assim sempre anda César tranquilo.
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