sábado, abril 26, 2003

Cai na real.


Há mais de um mês que não escrevo neste espaço. Acordei com esta na cabeça: vou dizer qualquer coisa nem que seja uma idiotice...
Registam os dicionários que idiotice é qualidade do que é ou de quem é idiota e/ou acção, procedimento ou dito de idiota ou de pessoa dada como idiota (Dicionário Houaiss). Ora se forem ver o termo idiota (e aconselho a consulta de um qualquer dicionário especializado de psicologia) verão que nenhum idiota é capaz de consultar o dicionário, nem capaz de dizer uma idiotice: - o idiota não fala por se tratar do grau mais adiantado da degradação intelectual.
É com sua lábia de sábio que o humano enrola tudo o que não fala na categoria do quem cala consente. Como só o humano fala, o resto que sobra é idiota, fazendo jus à etimologia da palavra que vem do grego idiotès, termo que se aplicava ao irredutível homem comum singular, um qualquer zé-ninguém face aos magistrados e aos sábios que sempre conseguem subordinar o particular a uma lei geral que desvia a atenção do comum dos mortais da inexorável realidade.
O homem foge do real como o diabo da cruz. Abomina o que é simples, e treme diante do que é único. Por isso o humano imaginou um sistema para iludir a realidade que assenta no famigerado princípio de que o homem é a medida de todas as coisas. Parece que o mistério de todos os mistérios (ver o livro de Michael Ruse, com este título, edições quasi, 1ª edição, Outubro de 2002) é saber se existe ou não uma realidade para além do que os nossos sentidos percebem. No entanto, a realidade leva sempre a melhor. Não são as utilíssimas leis da ciência que iludem a realidade (evoco aqui o prefacio ao livro citado do Prof. Alexandre Quintanilha): os prédios caiem, as pontes ruem, as barragens cedem, os aviões despenham-se, os automóveis embatem, os navios afundam-se; uma cegonha provoca um apagão num país; os medicamentos curam e matam; a genética reproduz a cor dos pigmentos, mas não impede que sejam “teus olhos castanhos de encantos tamanhos pecados meus”.
É assim a plenitude do real com ou sem as leis da mecânica, as leis da electricidade, as leis da química, ou as leis da genética.
Amigo, cai na real.